Umbanda no Século XXI, perspectivas e desafios

em sábado, 6 de fevereiro de 2021

 1 - Apresentação

O principal objetivo do blog “Umbanda no Século XXI, perspectivas e desafios” é aglutinar num mesmo local a produção cultural, artística e educacional umbandista, que encontra-se disponível, mas dispersa, nos mais diversos meios, tais como a internet, livros, revistas, artigos, textos, dissertações e teses acadêmicas, entrevistas, material audiovisual (documentários, vídeos e filmes), de forma a constituir-se num grande “banco de dados” “sobre” e “da” Umbanda, caracterizando-se por ser uma fonte de informações didáticas e históricas, de cunho pluralista, não sectário e democrático, e, sem discriminação de qualquer ordem.

Não se pretende com a criação do blog substituir a tradição da oralidade existente na Umbanda, no Candomblé e nas demais Religiões de Matriz Africana, mesmo porque as civilizações africanas, eram em grande parte da palavra falada, com os testemunhos transmitidos oralmente de geração em geração, mesmo onde existia a escrita. Mas, isso acontecia também porque poucas pessoas sabiam escrever, ficando a escrita muitas vezes relegada a um plano secundário nas preocupações essenciais dessas comunidades.

Seria um erro reduzir as civilizações da palavra falada simplesmente a uma negativa, "ausência do escrever", as tradições orais, representam a atitude de uma civilização oral, totalmente diferente de uma civilização onde a escrita registrou todas as mensagens importantes.

Entretanto, deve existir a preocupação com a perda dos ensinamentos, assim, com o material escrito e coletados de audiovisuais se perpetua e se reconhece a importância dessa tradição, mas, para que não se perca um sem número de mensagens, instruções e memórias, se registrará em meio magnético e, também a versão escrita.

Além disso, com seções específicas para notícias de eventos, lançamentos de livros e revistas, links e informações de outros sites e blogs, se pretende dar uma dinâmica ao Blog, que corresponda efetivamente ao efervescente dia-a-dia vivenciados nos templos pelos fiéis umbandistas.

Para resgatar a memória, objetivando preservá-la, propõe-se, a criação do “Círculo Paranaense da História Umbandista”, um canal de debates e entrevistas com personalidades marcantes da história da Umbanda no Estado do Paraná e no Brasil, que deverá gerar textos inéditos, especialmente destinados ao Blog.

Gradativamente serão publicadas, resenhas de novos lançamentos editoriais e debates importantes, principalmente relativos aos temas mais polêmicos.

1.1 - Dossiês

Além dessas seções permanentes, se pretende construir dossiês sobre temas relevantes, com a característica de incluir tudo o que for conhecido inerente ao tema em questão, tornando-se num documento completo.

Desde já, lançamos o primeiro tema para um dossiê: “Religião e Política sob a ótica dos dirigentes Umbandistas “, tendo em vista o período recente e as ações executadas desde as eleições de 2014, bem como as perspectivas para o futuro.

A reflexão sobre a relação Política X Religião, é necessária e urgente para os Umbandistas, Candomblecistas e fiéis das demais Religiões de Matriz Africana como forma de ampliar a ação no campo institucional, a fim de diminuir o preconceito e a discriminação. Essa relação, não é ponto pacífico, por existirem controvérsias; assim, há dirigentes Umbandistas que defendem a participação efetiva destes fiéis e simpatizantes na política institucional, e, outros que são favoráveis a manutenção do atual “status quo”, deixando a religião para dentro das paredes dos templos. Por certo não se trata de levar a política para dentro dos Templos, mas, os Templos, Dirigentes, Médiuns e Simpatizantes para a política.

Como forma de abrir efetivamente essa discussão, visando ter uma posição consolidada para as eleições de 2024, é necessário iniciar imediatamente esse debate, partindo dos aspectos e fatos relevantes da história política brasileira vertidas e privilegiando a participação dos Umbandistas.

Também merece destaque o papel que poderá ser desempenhado pelo Blog, como uma ligação entre os dirigentes, correntes mediúnicas, grupos de estudos, centros de pesquisa e pesquisadores, o que propiciará participação ativa, mas, coordenada nas iniciativas de cunho e interesse geral. Cita-se como exemplo, a mobilização nacional em repúdio a sentença proferida pelo juiz da 17ª. Vara da Justiça Federal do RJ, que afirmava que a Umbanda e o Candomblé não seriam religiões pela ausência de certos atributos.

Esse extenso material, em conformidade com a proposta editorial do Blog, visa contribuir para a pesquisa, a reflexão crítica e a difusão do pensamento Umbandista no Brasil contemporâneo, contribuindo para atenuar a distância entre a Umbanda escrita e a Umbanda praticada nos templos. 

Dessa forma, colaborando para o aumento do conhecimento “sobre” e “da” religião, se pretende auxiliar na diminuição do preconceito e da discriminação, ainda existentes, infelizmente, na sociedade brasileira do século XXI.

Embora exista a consciência de que o público leitor se concentrará mais nos templos, sabe-se que as mídias sociais podem ajudar numa disseminação maior, nos meios acadêmicos universitários (docentes e estudantes), o que cria a expectativa de que o Blog venha a se constituir numa referência relevante na formação teórica e teológica dos dirigentes, médiuns e simpatizantes, além de base de pesquisa para a efetivação de um ensino religioso que respeite todas as tradições religiosas, voltada para os professores e alunos das escolas públicas e privadas, oferecendo um material de pesquisa diferenciado não só pela quantidade disponível num só site, mas, e principalmente, pela qualidade apresentada.

1.2 - Outras editorias

Propõe-se também a criação da seção “Comunidades de Terreiro”, que materializará o desejo e a vontade de registrar as importantes contribuições dessas comunidades nos “movimentos sociais e religiosos”, acontecidos e existentes no Brasil, como justifica-se no texto de apresentação.

Além disso, o Blog “Umbanda no Século XXI, perspectivas e desafios” deverá buscar a ampliação de temas, problemas e vias de acesso para o debate com a criação das seções “Intervenções”, “Homenagem” e “Mural”, através das quais será possível acessar um conjunto importante de materiais não contemplados nos dossiês.

Embora a ênfase do trabalho editorial esteja na divulgação, notadamente, de textos teóricos, o Blog também publicará trabalhos que debatam a conjuntura política e social brasileira; contudo, ao publicar estas análises conjunturais enfatiza-se a necessidade de elas estarem fundadas e articuladas por meio de pressupostos e conceitos teóricos Umbandistas.

Portanto, acredita-se que a proposta editorial – que se reafirma pluralista, não sectária e democrática -, no amplo espectro da Umbanda, somente será efetivada na medida em que nenhuma orientação teórica/teológica, litúrgica, ritualística ou “escola” de pensamento seja privilegiada pelo trabalho editorial.

2 - Dinâmica Editorial

Por ocasião do lançamento do Blog, serão criadas duas instâncias de trabalho editorial, um Comitê Editorial composto por 9 (nove) membros, cujo papel é assumir as responsabilidades mais efetivas no trabalho editorial, formado por escritores e pesquisadores Umbandistas e, um Conselho Consultivo composto por 27 (vinte e sete) membros, formado por dirigentes de templos Umbandistas das mais diversas escolas e/ou linhas de trabalho, sob a condição de que estejam em atividade, dirigindo efetivamente uma Gira num Terreiro ativo.

Os membros de ambas as instâncias, Comitê Editorial e Conselho Consultivo, se comprometem a escrever à editoria e colaborar com a produção de matérias solicitadas.

As reuniões das duas instâncias se darão virtualmente através de aplicativo que permita a comunicação do grupo, como se fosse presencial, assim, eliminam-se as distâncias físicas e aproximam-se membros do Comitê Editorial e do Conselho Consultivo.

Funcionando de forma colegiada, nestas ocasiões, basicamente, serão feitas as avaliações do trabalho editorial e discutidas as propostas de novas postagens. No cotidiano do Blog prevalecerá, contudo, prioritariamente, uma intensa correspondência através de e-mail, whatsapp, ou outra mídia eletrônica que permita essa comunicação.

O Conselho Consultivo será criado com o objetivo de assessorar a editoria por meio de propostas de matérias (artigos, teses/dissertações, vídeos etc.), informações sobre eventos e avaliação crítica do trabalho editorial do Blog. 

Para que se trabalhe de forma organizada, buscando a uniformização de procedimentos, o envolvimento orgânico na coordenação e organização dos dossiês e seções do Blog, ensejando a efetiva participação de todos, será realizado um planejamento de atividades editoriais, em princípio não presencial, já no começo de 2024, em formato, local e data a ser comunicada oportunamente. Até lá, as postagens seerão de responsabilidade dos criadores do Blog.

Avalia-se que existirão dificuldades, por um lado, pelos limites impostos pela lógica do “tarefeirismo”, do volume e da constância dos afazeres particulares de cada um, e por outro, pelo distanciamento existente entre a teoria e a prática efetiva nos Templos Umbandistas. A lógica das tarefas reflete-se não só na imposição de uma carga de trabalho que dificulta o envolvimento de dirigentes e lideranças (estudiosos(as) Umbandistas) com as atividades não vinculadas aos seus deveres particulares e litúrgicos. Deve-se destacar ainda a inexistência de qualquer relação mais constante e institucionalizada entre os dirigentes dos Templos, o que dificulta a saudável polêmica e o debate franco e aberto.

Por outro lado, nas comunidades de terreiros ainda prevalecem o ativismo e uma perspectiva teórico ritualística autorreferente em detrimento do estudo mais profundo (fruto talvez da oralidade) e da ampliação de referências teóricas. Talvez essa situação explique o fato de que no Brasil edições tidas como bem-sucedidas de livros e revistas umbandistas girem em torno de mil exemplares (informação dos próprios autores, uma vez que em muitos casos não se tem a tiragem auditada), num universo aproximado de 212 milhões de brasileiros. (segundo estimativa do IBGE)

Tais dificuldades de interlocução, engajamento e mobilização precisarão ser superadas, na medida em que, como afirma a proposta editorial, o Blog “Umbanda no Século XXI, perspectivas e desafios”, visa responder às necessidades intelectuais não apenas de dirigentes, médiuns e simpatizantes, mas também de ativistas sociais, professores e estudantes do ensino médio, informando-os sobre as atividades, os eventos e as diversas produções teóricas/teológicas comprometidas com a Umbanda anunciada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas pelas mãos do médium Zélio Fernandino de Moraes em 1908.

3 - Perspectivas

Parece não haver dúvidas sobre o fato de que o Blog, em pouco tempo, poderá tornar-se relevante referência na pesquisa umbandista brasileira – sobretudo enquanto um grande repositório de textos didáticos e históricos. A questão que se coloca é saber não apenas o que é possível ser feito para ele se consolidar nesse sentido, mas, sobretudo, o que é necessário fazer para que ele represente um salto de qualidade quanto ao seu objetivo (aglutinar quantitativa e qualitativamente o conhecimento dos umbandistas) e, qual seria a melhor e principal direção a ser trilhada para que isso ocorra. 

Existe, porém, uma questão que antecede essa discussão:

Qual é o ponto de partida mais adequado para se situar os desafios atuais e futuros do Blog, as necessidades externas de buscar a evolução da pesquisa umbandista brasileira, especialmente a feita nas universidades, ou, internas, no atendimento das exigências dos leitores tradicionais?

Caso atenha-se nesse critério de atender aos leitores tradicionais, reafirma-se a tendência de falar para pequenos círculos - fiéis Umbandistas, ativos nos templos -, que não atinge o conjunto da sociedade, tampouco auxiliará de maneira ampla, o transbordo dos atuais paradigmas de preconceito e discriminação. Dessa forma, entende-se que a maneira correta de se abordar a questão é situando-a no quadro mais amplo da discussão teórica, teológica e litúrgica, colocada para os umbandistas nos marcos conjunturais da atual sociedade brasileira. Ou seja, é debatendo essa conjuntura – em sentido amplo, envolvendo seus aspectos políticos, teóricos, teológicos, sociais, culturais etc. – que poder-se-á de fato, entender os desafios a serem enfrentados.

Não se pretende aqui discutir todos os diferentes aspectos dessa conjuntura; mas elencar os temas principais, que merecem análise, debate e um posicionamento coletivo.

Apesar dos avanços observados nos últimos anos, o movimento umbandista não tem conseguido responder ao conjunto de questões propostas pela contemporaneidade, – diminuição acentuada de fiéis e fechamento de terreiros, avanço das religiões evangélicas neopentecostais, crescimento dos conflitos inter-religiosos, relação entre a Umbanda e a sociedade, a crítica à formação deficiente dos dirigentes (novo e antigos), principalmente sobre a forma como são tratadas as missões vocacionais definidas pela espiritualidade e o simples desejo do médium tornar-se dirigente para ascender socialmente, e por último, as questões inerentes à liturgia umbandista e as grandes polêmicas, por exemplo: cobrança X caridade, sacrifício X protecionismo animal, diversidade X codificação, matriz africana X matriz brasileira, dentre outras.

Além disso, outro conjunto de temas envolve as especificidades da formação social/religiosa brasileira, que deve merecer atenção dos pesquisadores e dos Umbandistas: a herança do escravismo e a laicidade do estado, no qual acredita-se que as quatro matrizes religiosas existentes, Africana, Indígena, Ocidental e Oriental, com as suas diferentes tradições, devam ter o mesmo grau de aceitação e respeito, pela sociedade como um todo, partindo do seu reconhecimento institucional.

Dessa forma, o Blog deve situar-se no cenário mais amplo da disputa teórica, teológica, cultural e política da sociedade brasileira, como uma referência para oferecer orientações mais sólidas para superar esses desafios. Notadamente quando esse cenário pode ensejar conflitos sociais cotidianos, envolvendo os umbandistas, candomblecistas e fiéis das demais religiões de matriz africana e outras parcelas da sociedade brasileira.

Portanto, da maneira mais geral, crê-se que assim os Umbandistas poderão revelar toda a sua potencialidade como uma teologia de transformação social, reconhecendo e praticando a religião brasileira que mais cresceu, como referência insubstituível no espectro das religiões professadas em nosso país, estabelecendo a relação indissociável entre a teoria e a prática ritualística, ultrapassando dessa forma, as barreiras do conhecimento hoje existentes.

Em suma, a discussão sobre as perspectivas do Blog deve ser orientada por um critério externo capaz de extrapolar os limites atuais, objetivando situar a sua contribuição no cenário mais amplo da mobilização de todos os umbandistas contra a discriminação e o preconceito e pelo reconhecimento institucional da religião; e não por um critério interno, que privilegie pequenos grupos.

4 – Desafios

4.1 - A guisa de uma introdução ao debate, elencamos sumariamente os seguintes desafios:

a) ampliar a divulgação da Umbanda e os seus aspectos filo/religiosos, teológicos, litúrgicos e ritualísticos como argumentos na mobilização contra a discriminação e o preconceito;

b)    respeitar a diferença de opiniões, sem deixar, porém, de demarcar com a maior clareza possível as características próprias da Umbanda e a sua relação com as diversas correntes de pensamento com problematização teórico/teológicas distintas. O diálogo só pode avançar com a clara explicitação das diferenças entre a Umbanda e as outras religiões abrigadas sob essa denominação, e não através de sua ocultação ou das superficiais buscas de pontos de contato.

c)    estimular e fortalecer os laços entre a pesquisa umbandista universitária e as iniciativas de formação realizadas nas comunidades de Terreiros (cursos, doutrinas, palestras) e os outros movimentos sociais e religiosos;

d)  dedicar especial atenção à discussão com a nova geração de umbandistas e de pesquisadores, seja na universidade ou fora dela;

e)    contribuir para democratizar e aprofundar ainda mais o debate franco e aberto entre os umbandistas, livre de qualquer condicionamento posto por relações de poder, mercantis, de amizade etc., procurando focá-lo na troca permanente de argumentos consistentes e não em torno de pessoas (messianismo);

f)     continuar respeitando a rica pluralidade de correntes e de interpretações no interior da Umbanda, sem privilegiar nenhuma delas, na permanente busca pelo aprofundamento do debate e pelo refinamento da argumentação, em estrita consonância com os objetivos do Blog;

g)    contribuir para o desenvolvimento de uma análise sistematizada e profunda sobre a conjuntura brasileira, entendida em sentido amplo – econômico, político, teológico, ideológico, social, cultural etc., e os seus desdobramentos religiosos;

h)   potencializar a ação voltada para a articulação nacional entre pesquisadores e grupos de estudo, incentivado a intervenção plural, democrática e unitária dos umbandistas em todas as questões possíveis, sem exclusão ou favorecimento de qualquer ordem.

4.2 - Medidas práticas

a)    profissionalizar o trabalho editorial, facilitando a publicação dos mais diversos autores;

b)    fortalecer a seção das “Comunidades de Terreiros”, procurando estabelecer um diálogo permanente entre elas no sentido de contribuir para a sua formação teórico/teológica na Umbanda;

c) criar o “Círculo Paranaense da História Umbandista” voltado para a pesquisa, análise, sistematização, debate e registro de questões vinculadas aos mais diversos fatos, ao longo da linha do tempo;

d) discutir a possibilidade de criação de uma revista, inicialmente online, voltada especialmente para incentivar a produção teórica dos jovens pesquisadores das universidades e dos Grupos de Estudos das Comunidades de Terreiros – como estímulo ao estudo e pesquisa, dentro e fora das universidades;

e) Consolidar as seções “Resenhas”, “Mural”, “Intervenções” e “Comunidades de Terreiros”, que ensejam a participação de novos autores Umbandistas, sem descuidar das publicações dos autores Umbandistas clássicos e mais conhecidos.

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