1 - Apresentação
O principal objetivo do blog “Umbanda
no Século XXI, perspectivas e desafios” é aglutinar num mesmo local a produção
cultural, artística e educacional umbandista, que encontra-se disponível, mas
dispersa, nos mais diversos meios, tais como a internet, livros, revistas,
artigos, textos, dissertações e teses acadêmicas, entrevistas, material
audiovisual (documentários, vídeos e filmes), de forma a constituir-se num
grande “banco de dados” “sobre” e “da” Umbanda, caracterizando-se por ser uma
fonte de informações didáticas e históricas, de cunho pluralista, não sectário
e democrático, e, sem discriminação de qualquer ordem.
Não se pretende com a
criação do blog substituir a tradição da oralidade existente na Umbanda, no
Candomblé e nas demais Religiões de Matriz Africana, mesmo porque as
civilizações africanas, eram em grande parte da palavra falada, com os
testemunhos transmitidos oralmente de geração em geração, mesmo onde existia a
escrita. Mas, isso acontecia também porque poucas pessoas sabiam escrever,
ficando a escrita muitas vezes relegada a um plano secundário nas preocupações
essenciais dessas comunidades.
Seria um erro reduzir
as civilizações da palavra falada simplesmente a uma negativa, "ausência
do escrever", as tradições orais, representam a atitude de uma civilização
oral, totalmente diferente de uma civilização onde a escrita registrou todas as
mensagens importantes.
Entretanto, deve
existir a preocupação com a perda dos ensinamentos, assim, com o material escrito e coletados de audiovisuais se perpetua e se reconhece a importância dessa tradição, mas,
para que não se perca um sem número de mensagens, instruções e memórias, se
registrará em meio magnético e, também a versão escrita.
Além disso, com seções específicas para
notícias de eventos, lançamentos de livros e revistas, links e informações de
outros sites e blogs, se pretende dar uma dinâmica ao Blog, que corresponda
efetivamente ao efervescente dia-a-dia vivenciados nos templos pelos fiéis umbandistas.
Para resgatar a memória, objetivando
preservá-la, propõe-se, a criação do “Círculo Paranaense da História Umbandista”, um canal de debates e entrevistas com personalidades
marcantes da história da Umbanda no Estado do Paraná e no Brasil, que deverá
gerar textos inéditos, especialmente destinados ao Blog.
Gradativamente serão publicadas,
resenhas de novos lançamentos editoriais e debates importantes, principalmente
relativos aos temas mais polêmicos.
1.1 - Dossiês
Além dessas seções permanentes, se
pretende construir dossiês sobre temas relevantes, com a característica de
incluir tudo o que for conhecido inerente ao tema em questão, tornando-se num
documento completo.
Desde já, lançamos o primeiro tema para
um dossiê: “Religião e Política sob a ótica dos dirigentes Umbandistas “, tendo
em vista o período recente e as ações executadas desde as eleições de 2014,
bem como as perspectivas para o futuro.
A reflexão sobre a relação Política X
Religião, é necessária e urgente para os Umbandistas, Candomblecistas e fiéis
das demais Religiões de Matriz Africana como forma de ampliar a ação no campo
institucional, a fim de diminuir o preconceito e a discriminação. Essa relação,
não é ponto pacífico, por existirem controvérsias; assim, há dirigentes Umbandistas
que defendem a participação efetiva destes fiéis e simpatizantes na política
institucional, e, outros que são favoráveis a manutenção do atual “status
quo”, deixando a religião para dentro das paredes dos templos. Por certo
não se trata de levar a política para dentro dos Templos, mas, os Templos,
Dirigentes, Médiuns e Simpatizantes para a política.
Como forma de abrir efetivamente essa
discussão, visando ter uma posição consolidada para as eleições de 2024, é
necessário iniciar imediatamente esse debate, partindo dos aspectos e fatos
relevantes da história política brasileira vertidas e privilegiando a
participação dos Umbandistas.
Também merece destaque o papel que
poderá ser desempenhado pelo Blog, como uma ligação entre os dirigentes,
correntes mediúnicas, grupos de estudos, centros de pesquisa e pesquisadores, o
que propiciará participação ativa, mas, coordenada nas iniciativas de cunho e
interesse geral. Cita-se como exemplo, a mobilização nacional em repúdio a
sentença proferida pelo juiz da 17ª. Vara da Justiça Federal do RJ, que
afirmava que a Umbanda e o Candomblé não seriam religiões pela ausência de
certos atributos.
Esse extenso material, em conformidade
com a proposta editorial do Blog, visa contribuir para a pesquisa, a reflexão
crítica e a difusão do pensamento Umbandista no Brasil contemporâneo,
contribuindo para atenuar a distância entre a Umbanda escrita e a Umbanda
praticada nos templos.
Dessa forma, colaborando para o aumento
do conhecimento “sobre” e “da” religião, se pretende auxiliar na diminuição do
preconceito e da discriminação, ainda existentes, infelizmente, na sociedade
brasileira do século XXI.
Embora exista a consciência de que o
público leitor se concentrará mais nos templos, sabe-se que as mídias sociais
podem ajudar numa disseminação maior, nos meios acadêmicos universitários
(docentes e estudantes), o que cria a expectativa de que o Blog venha a se
constituir numa referência relevante na formação teórica e teológica dos
dirigentes, médiuns e simpatizantes, além de base de pesquisa para a efetivação
de um ensino religioso que respeite todas as tradições religiosas, voltada para
os professores e alunos das escolas públicas e privadas, oferecendo um material
de pesquisa diferenciado não só pela quantidade disponível num só site, mas, e
principalmente, pela qualidade apresentada.
1.2 - Outras editorias
Propõe-se também a criação da seção
“Comunidades de Terreiro”, que materializará o desejo e a vontade de registrar
as importantes contribuições dessas comunidades nos “movimentos sociais e
religiosos”, acontecidos e existentes no Brasil, como justifica-se no texto de
apresentação.
Além disso, o Blog “Umbanda no Século
XXI, perspectivas e desafios” deverá buscar a ampliação de temas, problemas e
vias de acesso para o debate com a criação das seções “Intervenções”,
“Homenagem” e “Mural”, através das quais será possível acessar um conjunto
importante de materiais não contemplados nos dossiês.
Embora a ênfase do trabalho editorial
esteja na divulgação, notadamente, de textos teóricos, o Blog também publicará
trabalhos que debatam a conjuntura política e social brasileira; contudo, ao
publicar estas análises conjunturais enfatiza-se a necessidade de elas estarem
fundadas e articuladas por meio de pressupostos e conceitos teóricos Umbandistas.
Portanto, acredita-se que a proposta
editorial – que se reafirma pluralista, não sectária e democrática -, no amplo
espectro da Umbanda, somente será efetivada na medida em que nenhuma orientação
teórica/teológica, litúrgica, ritualística ou “escola” de pensamento seja
privilegiada pelo trabalho editorial.
2 - Dinâmica Editorial
Por ocasião do lançamento do Blog,
serão criadas duas instâncias de trabalho editorial, um Comitê Editorial
composto por 9 (nove) membros, cujo papel é assumir as responsabilidades mais
efetivas no trabalho editorial, formado por escritores e pesquisadores Umbandistas
e, um Conselho Consultivo composto por 27 (vinte e sete) membros, formado por
dirigentes de templos Umbandistas das mais diversas escolas e/ou linhas de
trabalho, sob a condição de que estejam em atividade, dirigindo efetivamente
uma Gira num Terreiro ativo.
Os membros de ambas as instâncias,
Comitê Editorial e Conselho Consultivo, se comprometem a escrever à editoria e
colaborar com a produção de matérias solicitadas.
As reuniões das duas instâncias se
darão virtualmente através de aplicativo que permita a comunicação do grupo,
como se fosse presencial, assim, eliminam-se as distâncias físicas e
aproximam-se membros do Comitê Editorial e do Conselho Consultivo.
Funcionando de forma colegiada, nestas
ocasiões, basicamente, serão feitas as avaliações do trabalho editorial e
discutidas as propostas de novas postagens. No cotidiano do Blog prevalecerá,
contudo, prioritariamente, uma intensa correspondência através de e-mail, whatsapp, ou outra mídia eletrônica que permita essa comunicação.
O Conselho Consultivo será criado com o
objetivo de assessorar a editoria por meio de propostas de matérias (artigos,
teses/dissertações, vídeos etc.), informações sobre eventos e avaliação crítica
do trabalho editorial do Blog.
Para que se trabalhe de forma
organizada, buscando a uniformização de procedimentos, o envolvimento orgânico
na coordenação e organização dos dossiês e seções do Blog, ensejando a efetiva
participação de todos, será realizado um planejamento de atividades editoriais,
em princípio não presencial, já no começo de 2024, em formato, local e data a
ser comunicada oportunamente. Até lá, as postagens seerão de responsabilidade dos criadores do Blog.
Avalia-se que existirão dificuldades,
por um lado, pelos limites impostos pela lógica do “tarefeirismo”, do volume e
da constância dos afazeres particulares de cada um, e por outro, pelo distanciamento
existente entre a teoria e a prática efetiva nos Templos Umbandistas. A lógica
das tarefas reflete-se não só na imposição de uma carga de trabalho que
dificulta o envolvimento de dirigentes e lideranças (estudiosos(as) Umbandistas) com as
atividades não vinculadas aos seus deveres particulares e litúrgicos. Deve-se
destacar ainda a inexistência de qualquer relação mais constante e
institucionalizada entre os dirigentes dos Templos, o que dificulta a saudável
polêmica e o debate franco e aberto.
Por outro lado, nas comunidades de
terreiros ainda prevalecem o ativismo e uma perspectiva teórico ritualística
autorreferente em detrimento do estudo mais profundo (fruto talvez da
oralidade) e da ampliação de referências teóricas. Talvez essa situação
explique o fato de que no Brasil edições tidas como bem-sucedidas de livros e
revistas umbandistas girem em torno de mil exemplares (informação dos próprios
autores, uma vez que em muitos casos não se tem a tiragem auditada), num
universo aproximado de 212 milhões de brasileiros. (segundo estimativa do IBGE)
Tais dificuldades de interlocução,
engajamento e mobilização precisarão ser superadas, na medida em que, como
afirma a proposta editorial, o Blog “Umbanda no Século XXI, perspectivas e
desafios”, visa responder às necessidades intelectuais não apenas de
dirigentes, médiuns e simpatizantes, mas também de ativistas sociais,
professores e estudantes do ensino médio, informando-os sobre as atividades, os
eventos e as diversas produções teóricas/teológicas comprometidas com a Umbanda
anunciada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas pelas mãos do médium Zélio
Fernandino de Moraes em 1908.
3 - Perspectivas
Parece não haver dúvidas sobre o fato de que o Blog, em pouco tempo, poderá tornar-se relevante referência na pesquisa umbandista brasileira – sobretudo enquanto um grande repositório de textos didáticos e históricos. A questão que se coloca é saber não apenas o que é possível ser feito para ele se consolidar nesse sentido, mas, sobretudo, o que é necessário fazer para que ele represente um salto de qualidade quanto ao seu objetivo (aglutinar quantitativa e qualitativamente o conhecimento dos umbandistas) e, qual seria a melhor e principal direção a ser trilhada para que isso ocorra.
Existe, porém, uma questão que antecede essa discussão:
Qual é o ponto de partida mais adequado
para se situar os desafios atuais e futuros do Blog, as necessidades externas
de buscar a evolução da pesquisa umbandista brasileira, especialmente a feita
nas universidades, ou, internas, no atendimento das exigências dos leitores
tradicionais?
Caso atenha-se nesse critério de
atender aos leitores tradicionais, reafirma-se a tendência de falar para
pequenos círculos - fiéis Umbandistas, ativos nos templos -, que não atinge o
conjunto da sociedade, tampouco auxiliará de maneira ampla, o transbordo dos
atuais paradigmas de preconceito e discriminação. Dessa forma, entende-se que a
maneira correta de se abordar a questão é situando-a no quadro mais amplo da
discussão teórica, teológica e litúrgica, colocada para os umbandistas nos
marcos conjunturais da atual sociedade brasileira. Ou seja, é debatendo essa
conjuntura – em sentido amplo, envolvendo seus aspectos políticos, teóricos,
teológicos, sociais, culturais etc. – que poder-se-á de fato, entender os
desafios a serem enfrentados.
Não se pretende aqui discutir todos os
diferentes aspectos dessa conjuntura; mas elencar os temas principais, que
merecem análise, debate e um posicionamento coletivo.
Apesar dos avanços observados nos
últimos anos, o movimento umbandista não tem conseguido responder ao conjunto
de questões propostas pela contemporaneidade, – diminuição acentuada de fiéis e
fechamento de terreiros, avanço das religiões evangélicas neopentecostais,
crescimento dos conflitos inter-religiosos, relação entre a Umbanda e a
sociedade, a crítica à formação deficiente dos dirigentes (novo e antigos),
principalmente sobre a forma como são tratadas as missões vocacionais definidas
pela espiritualidade e o simples desejo do médium tornar-se dirigente para
ascender socialmente, e por último, as questões inerentes à liturgia umbandista
e as grandes polêmicas, por exemplo: cobrança X caridade, sacrifício X protecionismo animal,
diversidade X codificação, matriz africana X matriz brasileira, dentre outras.
Além disso, outro
conjunto de temas envolve as especificidades da formação social/religiosa
brasileira, que deve merecer atenção dos pesquisadores e dos Umbandistas: a
herança do escravismo e a laicidade do estado, no qual acredita-se que as
quatro matrizes religiosas existentes, Africana, Indígena, Ocidental e
Oriental, com as suas diferentes tradições, devam ter o mesmo grau de aceitação
e respeito, pela sociedade como um todo, partindo do seu reconhecimento
institucional.
Dessa forma, o Blog
deve situar-se no cenário mais amplo da disputa teórica, teológica, cultural e
política da sociedade brasileira, como uma referência para oferecer orientações
mais sólidas para superar esses desafios. Notadamente quando esse cenário pode
ensejar conflitos sociais cotidianos, envolvendo os umbandistas, candomblecistas e fiéis das demais religiões de matriz africana e outras
parcelas da sociedade brasileira.
Portanto, da maneira mais geral, crê-se
que assim os Umbandistas poderão revelar toda a sua potencialidade como uma
teologia de transformação social, reconhecendo e praticando a religião
brasileira que mais cresceu, como referência insubstituível no espectro das
religiões professadas em nosso país, estabelecendo a relação indissociável
entre a teoria e a prática ritualística, ultrapassando dessa forma, as
barreiras do conhecimento hoje existentes.
Em suma, a discussão sobre as
perspectivas do Blog deve ser orientada por um critério externo capaz de
extrapolar os limites atuais, objetivando situar a sua contribuição no cenário
mais amplo da mobilização de todos os umbandistas contra a discriminação e o
preconceito e pelo reconhecimento institucional da religião; e não por um
critério interno, que privilegie pequenos grupos.
4 – Desafios
4.1 - A guisa de uma introdução ao debate, elencamos sumariamente os seguintes desafios:
a) ampliar a divulgação da Umbanda
e os seus aspectos filo/religiosos, teológicos, litúrgicos e ritualísticos como
argumentos na mobilização contra a discriminação e o preconceito;
b) respeitar a
diferença de opiniões, sem deixar, porém, de demarcar com a maior clareza
possível as características próprias da Umbanda e a sua relação com as diversas
correntes de pensamento com problematização teórico/teológicas distintas. O
diálogo só pode avançar com a clara explicitação das diferenças entre a Umbanda
e as outras religiões abrigadas sob essa denominação, e não através de sua
ocultação ou das superficiais buscas de pontos de contato.
c) estimular e
fortalecer os laços entre a pesquisa umbandista universitária e as iniciativas
de formação realizadas nas comunidades de Terreiros (cursos, doutrinas,
palestras) e os outros movimentos sociais e religiosos;
d) dedicar especial atenção
à discussão com a nova geração de umbandistas e de pesquisadores, seja na
universidade ou fora dela;
e) contribuir
para democratizar e aprofundar ainda mais o debate franco e aberto entre os umbandistas,
livre de qualquer condicionamento posto por relações de poder, mercantis, de amizade
etc., procurando focá-lo na troca permanente de argumentos consistentes e não
em torno de pessoas (messianismo);
f) continuar
respeitando a rica pluralidade de correntes e de interpretações no interior da Umbanda,
sem privilegiar nenhuma delas, na permanente busca pelo aprofundamento do
debate e pelo refinamento da argumentação, em estrita consonância com os
objetivos do Blog;
g) contribuir
para o desenvolvimento de uma análise sistematizada e profunda sobre a
conjuntura brasileira, entendida em sentido amplo – econômico, político,
teológico, ideológico, social, cultural etc., e os seus desdobramentos
religiosos;
h) potencializar a
ação voltada para a articulação nacional entre pesquisadores e grupos de
estudo, incentivado a intervenção plural, democrática e unitária dos umbandistas
em todas as questões possíveis, sem exclusão ou favorecimento de qualquer
ordem.
4.2 - Medidas práticas
a) profissionalizar
o trabalho editorial, facilitando a publicação dos mais diversos autores;
b) fortalecer a
seção das “Comunidades de Terreiros”, procurando estabelecer um diálogo
permanente entre elas no sentido de contribuir para a sua formação
teórico/teológica na Umbanda;
c) criar o “Círculo Paranaense da
História Umbandista” voltado para a pesquisa, análise, sistematização, debate e
registro de questões vinculadas aos mais diversos fatos, ao longo da linha do
tempo;
d) discutir a possibilidade de
criação de uma revista, inicialmente online, voltada especialmente para
incentivar a produção teórica dos jovens pesquisadores das universidades e dos
Grupos de Estudos das Comunidades de Terreiros – como estímulo ao estudo e
pesquisa, dentro e fora das universidades;
e) Consolidar as seções
“Resenhas”, “Mural”, “Intervenções” e “Comunidades de Terreiros”, que ensejam a
participação de novos autores Umbandistas, sem descuidar das publicações dos
autores Umbandistas clássicos e mais conhecidos.